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Mostrando postagens de 2014

Ah, 2014! Morra logo!

Noite passada, sonhei com a morte. Não com a minha morte, mas com a Morte em carne e osso, se é que isso é possível. Ela mesma, montada em seu cavalo branco, com a áurea cheia de mistério e vazio. A morte, sempre surpreendente apesar de sempre esperada. A morte, nossa única certeza. Todos sabem que, assim que se nasce já se começa automaticamente a morrer. O cronômetro dispara a contagem regressiva já na maternidade. Aos poucos, o tempo que vivemos vai se tornando maior do que o que iremos viver. O passado fica maior que o futuro. É angustiante, mas inevitável. Nesse intervalo entre nascer e morrer, trilhamos caminhos diferentes para chegarmos ao mesmo fim. O pobre e o milionário, o hétero e o gay, o branco e o negro, todos acabam tendo o mesmo destino. Eu não temo a morte, só não concordo com ela. Acho revoltante você, de repente, não estar mais aqui. Tantas coisas para se fazer, lugares e pessoas para conhecer, filmes para ver, livros para ler, músicas para ouvir, e justamente no

poema digital

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O poeta morreu

O poeta morreu Cedo deu-se a notícia Na folha do jornal Com o primeiro raio de sol Apesar do susto O mundo continuou mundo Com seu excesso de carros, de pressa Com sua ganância por dinheiro E pobreza de amor O poeta morreu E deixou como último suspiro Um poema: "Faço do meu silêncio A verdadeira poesia Calando, digo o que penso Deixando o papel em branco Me mostro por inteiro As palavras que não disse Serão lembradas Como meu melhor discurso As pausas das vírgulas Como minhas melhores Rimas Por isso sei Agora serei lembrado Como um grande poeta Porque minha ausência Será mais marcante que minha Presença" O poeta morreu E ninguém pareceu entender: Não era ponto final Eram reticências...

Etc.

Tem uma música martelando na minha cabeça. "Estou sozinho, estou triste, etc." Maldito Caetano! Tem o dom de me atar um nó na garganta e de me traduzir sem nunca ter me lido. Todo mundo tem um dia ruim, uma semana ruim, um ano em que seria melhor não ter brindado sua chegada. Todo mundo sempre tem um encontro marcado com ela. E a tristeza, quando chega, é egoísta, possessiva, não aceita dividir a atenção. Portanto, só é profundamente sentida quando se está sozinho. "Estou sozinho, estou triste, etc." Como faz para baixar o volume? A tristeza muitas vezes também é abstrata. Não se está triste por algo específico, e sim por um conjunto de fatores ou simplesmente por... nada. Se está triste e pronto. Uma infinidade de sentimentos ou de vazios. Para mim, o "etc" de Caetano pode ser tanta coisa. Representa justamente esse excesso de significados. Colocando o "etc" na música, o poeta abre o horizonte e permite que esse sentimento seja consequência

Imagina

Vamos juntos nessa roda Chamada vida Imagina Você, minha bailarina E eu, mero expectador Seguindo teu corpo Que me domina Silencia a roda Mas a ciranda nunca termina Mesmo parada Tua dança me alucina Quero te ver valsar E depois em mim repousar Porque desse jeito, combina Sou ao mesmo tempo Arlequim e Pierrot E você, minha Colombina

Se

Se eu tivesse o poder de parar o tempo, nosso beijo seria um só, mas duraria uma vida. Se eu tivesse a chance de mudar nossa história, reescreveria somente o começo, pra te conhecer antes. Traçaria nossos destinos na maternidade. Se um gênio da lâmpada me oferecesse três pedidos, seriam três vidas com você. Se me dessem a máquina do tempo, voltaria ao passado e escutaria você dizendo que me amava pela primeira vez. Outra vez. Muitas vezes. Como um disco que quase fura. Se eu ganhasse super poderes, usaria cada um para te proteger. Seria teu Super-Homem, teu Batman, teu Homem-Aranha. Prenderia os chatos, daria um jeito nos invejosos. Amarraria sua tristeza. Enforcaria tua angústia. Envenenaria teus problemas todos. Se fosse te recriar, faria exatamente como é, cuidando os detalhes. Se fosse me refazer, entregaria o papel em branco a você. Me faz teu e você minha. Se fosse pra sonhar, sonharia nossa realidade.

Não toquem na minha dor

Entre jogos e desilusões da Copa do Mundo, esta semana parei para ver um dos filmes mais comentados do momento: A Culpa é das Estrelas. Adaptação de um livro que eu não li e que, pela sinopse, tinha todos os ingredientes para ser um clássico do gênero “água com açúcar”. Porém, amigos interessantes haviam feito críticas interessantes. Então, vamos lá! O filme surpreendeu a mim e a outros que esperavam que ele fosse somente um passatempo morno. Não. Ele vai muito além disso. E “além” aqui pode significar mais perto do que você imagina: dentro de você mesmo. A história do simpático casal Hazel Grace (Shailene Woodley) e Augustus (vivido por um ótimo Ansel Elgort), comove e machuca. Explora dores e anseios que você nem imaginaria que pudesse sentir. Ainda mais na sala de cinema. O longa é uma clássica história de amor impossível, entre a mocinha e o mocinho separados por uma doença. Mais que isso não conto, pois espero sinceramente que todos assistam. Meu objetivo ao escrever sobre o f
ando cheio desse vazio estou tão parado e com a cabeça a mil acordo cansado se penso em levantar pensamento já caiu essa pressa calma ansiedade preguiçosa onde foi que já se viu?

Escrevo, logo existo

Dia desses alguém me perguntou por que escrevo. Na hora não soube dizer e acabei dando uma resposta qualquer. Pensando um pouco mais, identifiquei a razão em uma história antiga, do tempo de escola e finalmente divulgo aqui a verdadeira resposta. Era uma pequena cidade na região metropolitana de Curitiba, onde passei parte da infância, foi ali que se deu a primeira paixão. No colégio, durante um inverno. Olhava a menina tímida, de olhos caídos e sorriso encantador e sentia um não-sei-o-quê de faltar o ar. Paixão primeira aos nove anos. Ela oito. O olhar distante era o único contato. Quando, no recreio, mirava por mais de cinco segundos seguidos, sem pestanejar, tomava ares de homem. Andava com o peito estufado e engrossava a voz. Perto dela, a voz não engrossava. Sequer saia. Ainda faltava. Na ausência da voz, a escrita era a única opção. Ela tinha que saber, mas contar com os olhos nos olhos não parecia possível nem mesmo em sonho. Foi quando começou, com as mãos vacilantes, a esc

De que lado está o crime?

Campinas, julho de 2013. Durante um show de Funk, ouvem-se três disparos de arma de fogo. Um deles acerta em cheio o jovem Daniel Pedreira Senna Pellegrine, paulistano de vinte e um anos, que teve o peito atingido e a voz calada à força. O crime assemelha-se a vários outros sobre os quais ouvimos falar o tempo inteiro. Esse, porém, levou pouco tempo para ganhar as manchetes dos principais jornais do País. Apesar de Daniel ter tido o mesmo destino cruel de outros tantos jovens brasileiros, a notícia nos arrancou do sofá e chocou muito mais que as outras. Daniel era o nome que constava na certidão de nascimento do jovem morto, mas era usado apenas por familiares e amigos mais íntimos. Para a imensa maioria, Daniel era conhecido de outra forma: como MC Daleste. MC Daleste era um dos representantes do chamado Funk Ostentação, uma releitura paulista do funk carioca. Nas letras do gênero, valoriza-se o dinheiro, as roupas de grife, os carros importados, as bebidas caras e as mulheres. Nos